quinta-feira, 22 de outubro de 2020

T3/E6 - I DO (Eu Aceito). Parte 3 de 4. Bônus.

 BÔNUS

O Bônus desse episódio é rico em linguagem filosófica e muito interessante. Todos os comentários dessa segunda parte eu não tinha percebido se não tivesse visto o Bônus, mas quando o assisti fiquei maravilhado. Os comentários são de Carlton Cuse, Josh Holloway e Evangeline Lilly. Observem:

FILOSOFIA 44 – Quando Jack está conversando com Kate separados pelo vidro, Carlton, e Evangeline comentam o seguinte: há uma barreira física entre o casal. Não existe distância entre ambos, mas sim, um vidro. Eles fazem essa cena tão intensa que se pudessem se tocar haveria uma explosão instantânea, mas não podem, há algo contido ao mesmo tempo com maior intensidade, pois precisam atravessar aquele vidro sem poder de fato quebrar aquela barreira – Excelente observação de quem realmente viveu e do outro que escreveu a cena. Só quando vi o Bônus foi que percebi o clima sensual contido que há na cena. E interessante é que o vidro é literalmente uma barreira invisível e que faz com que esses dois sintam um desejo que só é aflorado por causa de três coisas: o medo, o desconhecido e essa distância, tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Eles querem se abraçar, se tocar, mas uma barreira impede. Eles só sentem a barreira, mas não a vê.

FILOSOFIA 45 – Interessante o estudo que fizeram sobre a pessoa de Kate neste episódio. Eles comentam que Kate é uma personagem que gosta de fugir, mas não é só fugitiva da lei, também é fugitiva de situações emocionais difíceis. Há algo em seu DNA como personagem que a impede de ficar com Kevin – Vemos neste episódio ela como fugitiva da lei e de relacionamentos, como no caso de Kevin, Jack e James. No caso de Kevin, ela estava “brincando de casinha”, quando sabia que a realidade não era essa, ela não podia fingir que tudo estava bem. Curioso é que na 5ª Temporada esse “brincar de casinha” será citado. É como se mostrasse que por mais que os sobreviventes da Oceanic 815 tentassem ter uma vida normal, a realidade não era essa, por isso vieram parar na Ilha.

FILOSOFIA 46 – Quando falam a respeito de Kate e James, eles comentam que ambos têm medo de intimidade e ao mesmo tempo temem os sentimentos que têm um pelo outro – Mais um comentário feliz sobre esse casal. Kate tentava ter uma vida normal com alguém, mas seus problemas com a Justiça impediam. Devido a isso, ela não confiava em ninguém, e quando se relacionava com alguém, não durava muito por ter medo que algo acontecesse. James viveu dando golpes, por causa disso, tinha medo de gostar de verdade de alguém e quando isso acontecia, ele fugia. Aliás, no fim da 4ª temporada ele proporcionará uma dessas fugas de algo mais sério, mas que acontecerá outra vez na 5ª temporada e ele não conseguirá mais fugir por estar já com seu caráter moldado pela nova sociedade. O “brincar de casinha” acontecerá e ele citará essa expressão. Mas esse assunto é para o momento certo. Por isso que o relacionamento entre Kate e James não acontecia, pois ambos sentiam algo, mas não queria se entregar a isso… pelo menos até o momento em que Kate se entregará a James, mas por impulso, enquanto que ele se entregará um pouco mais que ela. Mas logo mais as circunstâncias o farão voltar a ser como antes. Esse assunto também será em seu momento certo.

FILOSOFIA 47 – Nos flashbacks, Kate quer Kevin tanto, contudo, sabe que não pode tê-lo e com Sawyer ela quer tão desesperadamente e evita, pois não quer que isso aconteça, entretanto, não parece conseguir impedir, pois há essa química e esse momento entre eles que ela não pode evitar, enquanto que nos flashbacks ela está relativamente livre para deixar acontecer e na verdade é mais difícil para ela permanecer naquela casa, cozinhar e ser uma dona de casa do que quebrar pedras, trabalhar e dormir numa jaula. Acho que a Ilha representa o que ela é em seu coração e os flashbacks representam o que ela gostaria de ser – Mais outro brilhante estudo da pessoa de Kate feito pela própria atriz, Evangeline Lilly. Chamou-me bastante atenção a brilhante observação da atriz quando diz que fora da ilha Kate está em um relacionamento livre, mas se sente presa, já na Ilha ela está presa, mas pela primeira vez começa a se sentir livre em liberar seus sentimentos. A outra parte que me chamou a atenção foi o fato de ela “brincar de casinha”, pois ela passou sua vida fugindo e sem ter responsabilidades, o que a fez se acostumar a viver com dificuldades. Como bem disse a atriz, a Ilha fez Kate soltar o que ela realmente é, o que não conseguiu ser de verdade desde que seu pai biológico, que ela pensava ser seu padrinho, arruinou sua vida.

CURIOSIDADE 424 – Uma coisa interessante Evangeline falou e que eu me identifiquei bastante. Ela disse que sua metodologia para atuar é ler o roteiro pela primeira vez como se fosse o próprio público assistindo, então, lê puramente pelo entretenimento, se separa da personagem, reage emocionalmente às cenas e vê como a fazem se sentir, para que saiba o que quer, projetar para o público o que quer que eles sintam. Tenta lê-las em voz alta e vê como soa emocionalmente se vai dar de cara com algo que lhe parece um obstáculo. Ela as explora se algo parece fluir e tentar ser natural; tenta guardar e esquecer, fingir que nunca leu antes para que no dia de atuar possa fluir instintivamente do jeito mais puro que deva ser, contudo, se der de cara com um obstáculo no roteiro, tenta trabalhar a cena e experimentar fazer de maneira diferente, até parecer verdadeiro, e assim anota como foi e porque foi assim.

            Por que expliquei tudo isso? Escrevi uma Trilogia e no terceiro livro a primeira metade dele se desenrola conforme o andamento dos segundos, apesar de eu não mostrar esses segundos. Durante os quatro primeiros capítulos o tempo não segue uma linha correta, pois há um prólogo em um aparente tempo Presente, o capítulo 1 ocorre vinte minutos depois da cena do prólogo; o capítulo 2 ocorre uma hora atrás da última cena do primeiro capítulo até chegar à cena do Prólogo, mas mostrando outros personagens, e assim, prossegue pelo mesmo tempo do capítulo 1, focando outros personagens. Já o capítulo 3 ocorre após as cenas do capítulo 1. O capítulo 4 ocorre duas horas antes da última cena do capítulo três, no mesmo tempo da última cena do fim do capítulo 2.

            É claro que você não entendeu nada. Por que falei de meu livro e o que tem a ver com a tática de Evangeline para ensaiar suas cenas? Como você percebeu, os quatro primeiros capítulos de meu livro mexem bastante com o tempo, sendo assim, seria essencial eu ter certeza dos momentos em que ocorrem as cenas. Escrever um livro não é tão simples quanto parece, especialmente quando mexe com o tempo. A metodologia de Evangeline foi idêntica à minha, pois em cenas que mexem com o tempo, eu precisava ter certeza em que tempo as cenas descritas no livro poderiam durar. Para evitar descrever uma cena que, pela lógica das ações, deveria ocorrer em alguns segundos, fazer com que aparente minutos, eu tive que ler as falas em voz alta para ter a noção exata do tempo em que as cenas ocorrem. Mas não foi somente isso, assim como Evangeline, eu não somente li em voz alta, mas eu literalmente li como se realmente estivesse na cena e que eu estivesse de fato vivendo aquilo, pois você falar normalmente um “Não me diga!” não é a mesma coisa de falar com deboche o mesmo “Não me diga!”, o que provavelmente irá falar como se estivesse falando por sílabas, o que torna a cena alguns décimos de segundos a mais. Agora junte tudo isso em todas as falas. Portanto, era preciso dizer realmente as falas e citá-las como se realmente estivesse na cena.

            Foi essa curiosidade dita por Lilly que me fez se identificar com ela e para mostrar a vocês como tudo deve ser feito com toda cautela, mesmo escrevendo um aparente simples livro. A metodologia para se fazer as coisas é o que torna algo bem feito.

FILOSOFIA 48 – Mais um detalhe que jamais teria percebido se não tivesse assistido o Bônus, e esse achei muito interessante. Assim que colocam o capuz em Kate, entra um flashback dela no exato momento em que está com o véu. Gostei do paradoxo nas duas cenas. No presente, estão pondo um capuz que representa sua condição de prisioneira. Outra coisa interessante e que não comentaram é que o capuz é preto. No passado ela está com um capuz branco, o véu, mas este representa sua liberdade, que de certa forma a aprisionaria numa vida que ela sempre fugia e não se sentiria bem, além do mais, ela já fugia da Justiça e essa liberdade poderia representar sua prisão de verdade, pois mais cedo ou mais tarde seria descoberta. O véu seria sua outra prisão.

CURIOSIDADE 425 – Cuse revela que sempre que a série marcava o dia de começar a gravar determinado episódio, os roteiros de cada episódio eram escritos entre 5 ou 6 dias antes das filmagens. Quando acabavam, eles enviavam o roteiro direto para o Havaí. Essa foi uma das revelações que comprovou o que eles diziam, que a série era escrita e já jogavam direto para a TV, e que eu questionava se isso seria realmente verdade pelo fato de as seis temporadas serem muito bem interligadas. Daí pensei, pode ser que seja isso mesmo, mas com certeza os roteiristas já tinham muita coisa em mente, mesmo escrevendo praticamente à medida que a série passava na TV.

FILOSOFIA 49 – Este comentário é parecido com o Filosofia 44, Cuse comenta sobre a barreira entre Kate e os homens de sua vida. As jaulas são uma barreira, mas o vidro é invisível e distorce as coisas e te dá uma sensação de intimidade implícita que na verdade não existe. Esta barreira existe até mesmo entre ela e sua mãe.

FILOSOFIA50 – Evangeline comenta que a Ilha parece representar esse elo perdido dos sobreviventes por causa de seus problemas. Todas essas pessoas têm problemas com a intimidade, problemas com sua própria redenção, com sua autoestima. A Ilha é aquela barreira, a Ilha os sequestrou do mundo e do resto da humanidade.

FILOSOFIA 51 – Lilly fala sobre sua personagem relacionada com Jack e James. Comenta que ela ama esses dois homens por razões diferentes. Precise de um homem totalmente diferente que incorpore os dois ao invés de um ou do outro, por isso esse dilema de qual desses homens ela escolheria, mas ao mesmo tempo ela não gostaria de nenhum deles.

CURIOSIDADE 426 – Evangeline Lilly revela que Lost foi sua primeira cena como atriz na cena do avião com o detetive. Também foi o primeiro ator com quem contracenou. Algo parecido com isso comentei na Introdução e nos primeiros episódios da 1ª temporada, em que quase todo o elenco iniciou na TV exatamente nessa série. Nada mal para um início, pois todos fizeram atuação de primeira grandeza, digna de Oscar para todos.

CURIOSIDADE 427 – Josh Holloway revela que no começo da série seu personagem atirou várias vezes no urso polar. Depois daí, não se demonstrou ser bom em tiro alvo, inclusive errando para acertar o coração do detetive Mars. Foi daí que surgiu a ideia de ele ser míope e usar óculos na 2ª temporada. Essa curiosidade eu já tinha destacado também no começo, mas resolvi repetir aqui, já que está sendo dito neste episódio.

SOCIOLOGIA 196 – Carlton, Evangeline e Josh comentam o quanto é interessante ver como o telespectador pode mudar a percepção do público de um personagem à medida que passa a conhecê-lo. Achei muito interessante isso porque realmente mostra como o convívio faz com que você conheça bem alguém e perceba que não é aquilo que se pensava antes. Para Lost, foi exatamente assim que aconteceu comigo. Eu detestava Sawyer na 1ª temporada. Na 2ª já fui odiando menos e o achando até divertido. A partir da 3ª temporada fui começando a gostar dele, mas devemos lembrar que os “Outros” ajudaram a mudar e moldar seu caráter, mesmo assim, o fato de ver em sociedade e conviver verdadeiramente com pessoas fez com que ele deixasse de ser Sawyer e foi passando aos poucos, mesmo sem perceber, que estava voltando a ser James. É só uma questão de tempo para se acostumar com sociedade para ele, e com o personagem dele para nós, telespectadores.

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