quarta-feira, 14 de outubro de 2020

T3/E4 - EVERY MAN FOR HIMSELF (Cada Um por Si) - `Parte 1 de 2.

PSICOLOGIA 154 – QUANDO A MENTE TIRA “FÉRIAS DEFINITIVAS”. Esse título tem vários sentidos, mas a que estou me referindo vou explicar agora. A palavra aí é no sentido literal mesmo da palavra, ou seja, férias. O que são férias? Um espaço de tempo para relaxar após meses de trabalho.  O que são férias definitivas? O tempo limite de você trabalhar acaba, ou seja, aposentadoria (normal ou forçada). Explicado isso, vamos à cena deste episódio:

            Desmond tem seu primeiro Déjà Vù, ao ver que um raio cairá na tenda de Claire. Ele se oferece para consertar o telhado da tenda dela e pede para ela se mudar, pois caso fique por ali, as consequências já sabemos quais são. Como ela agradece, mas não sai dali, Desmond se retira frustrado. Claire pergunta: “Qual é a dele afinal?”. Charlie responde: “Não sei! Vamos ter que dar um outro botão para ele apertar”. Só uma rápida explicação: o pronome indefinido “outro” não pede artigo antes. Só para título de esclarecimento. Vou deixar as falas em paz, pois texto falado correto demais não fica muito natural. Voltando ao assunto…

            Férias definitivas é o sonho de todo mundo, pois trará um descanso merecido à mente. Mas… será que realmente relaxará a mente? A resposta com certeza é “sim”, mas só há um detalhe esquecido por todos aqui: quando a mente está desocupada. Acontece com muitas pessoas esse caso: o de, quando a pessoa está com férias definitivas, começa a se sentir só. Como assim? É muito bom quando se está trabalhando, pois sua mente está em constante movimento, em constante funcionamento, mesmo quando se estressa. Você está com pessoas, você está agindo, falando, observando o tempo, correndo contra o tempo, correndo com o tempo… se sente útil e importante. No momento em que as férias definitivas chegam, os primeiros dias tornam-se uma maravilha, mas chegará o dia em que você sentirá falta daquele agito. Agitação também é sinônimo de exercício. Já férias é sinônimo de estagnação que é sinônimo de sedentarismo. Trabalho é sinônimo de sociedade. Férias definitivas podem ser sinônimo de “autoexclusão” da sociedade, mesmo que se esteja rodeado por pessoas. Somando estagnação + pouca sociedade + mente desocupada, pode resultar em “auto-observação”, ou seja, você começa a observar a si mesmo e basta uma dor, um cansaço, um pseudo sintoma de se estar deprimido (não exatamente depressão) que começa a se imaginar doente, daí, a mente começa a trabalhar fervorosamente contra si mesmo, fazendo com que você ache que está com algum problema de saúde. Conheço exemplos, mas não vou citar. Enfim, como você passou a ter mais tempo para se observar, poderá sentir coisas que já sentia antes, mas que o tempo em que viveu ocupado não o fez perceber. Mesmo que se façam exames e mostre algum problema de saúde, tal problema não surgiu da noite para o dia, mas provavelmente já vinha com você há muito tempo, é o famoso check-up, que ninguém faz, mas deveria fazer todo ano. O problema já existia, você que não se cuidava antes. Outro destaque a se fazer: você se aposentou, OU SEJA, provavelmente ultrapassou os 55 anos. Ainda queria ter uma saúde 100%? Pode até ter, mas é só pensar um pouco, não é mesmo?

            Esse foi somente o exemplo físico, mas há também o problema social, ou seja, você se sentia útil trabalhando, gostava da agitação e do meio social. Quando se aposenta fica mais solitário e isso mexa com a autoestima. Foi esse o caso de Desmond, ou melhor, não foi o caso dele, mas sim, do que Charlie achou que fosse, sendo assim, vamos nos pegar ao que Charlie achava.

            Desmond, segundo Charlie, passou tanto tempo digitando os números que ficou preso àquilo. Levando em conta que digitar os botões servia para “salvar o mundo”, aí sim, ele se sentia mais do que útil. Por mais que reclamasse dos botões, segundo Charlie, era a função de Desmond, e agora que não tinha mais essa função, precisava de algo para fazer, portanto, passou a se sentir perdido (e sempre lembrando, segundo Charlie).

É claro que isso é só um exemplo. Pode acontecer com algumas pessoas, mas férias definitivas com certeza é o sonho de todos, independente se vai se sentir menos útil.

PSICOLOGIA 155 – Quando Ben estava prisioneiro na escotilha, começou a fazer seus jogos psicológicos para desestabilizar Locke. Agora foi a vingança de Jack. Vejam como palavras podem ser poderosas quando utilizadas para atingir alguém. E curiosamente, Locke foi jogado contra Jack por “Henry” deixar claro que o médico mandava em John. Jack começa a fazer a mesma coisa com Juliet a respeito de Ben. Vamos à cena:

JACK: Devo falar com Benjamim. Porque tô começando a achar que você é só a pessoa que traz a comida (...) você trabalha para ele?

JULIET: Não! Eu não trabalho para ele.

JACK: Então ele é que manda!

JULIET: As coisas não funcionam assim por aqui, Jack. Tomamos as decisões juntos.

JACK: Sério? Porque eu tava segurando o prato quebrado no seu pescoço. Ele me pareceu bem contente em deixar você morrer, aí, eu achei que ele tomou sozinho a decisão.

JULIET: Você não tem ideia do que está falando. Ele não manda em mim!

            Foi só ela concluir isso e chega Ben fazendo exigências:

BEN: Eu preciso de Você!

JULIET: Pode esperar?

BEN: O submarino voltou! Temos um problema! Venha comigo agora!

            É muito bem escrito o roteiro de LOST, pois agora vemos os papéis invertidos e o castigo chegando. Mas mais interessante ainda é observar o poder que palavras têm sendo usadas no momento certo. Elas são capazes de manipular situações, basta quem as usa seja inteligente o suficiente para saber como fazer. Mas gosto sempre de deixar claro que não concordo com esse tipo de atitude, só estou mostrando a capacidade que uma pessoa pode ter de traçar estratégias somente com o dom da palavra.

SOCIOLOGIA 191 – Na 1ª temporada vimos a sociedade recomeçar com os sobreviventes. Alguns grupos foram se formando. Todos passaram a se conhecer melhor depois de dois meses. Isso só é possível quando um grupo passa a conviver com o tempo. Nesta 3ª temporada ocorre da mesma forma que o começo da série. Bastou pouco tempo para James perceber que o grupo dos “Outros” não era de guerra. Quando Colleen é levada gravemente ferida, ele já sacou que seus amigos estavam a caminho para salvá-los:

KATE: O que aconteceu?

JAMES: Nós, amor (nós acontecemos, segundo a legenda)! Tô nessa ilha com tempo o suficiente para saber que eles não tão afim de matar ninguém (afim de atirar uns nos outros, segundo a legenda)! Fomos nós, nosso grupo!

            “Atirar uns nos outros” porque os sobreviventes já fizeram isso e James já percebeu que o grupo de Ben era muito unido. Todos tinham o mesmo denominador comum. Esse é resultado que se dá quando grupos convivem com outros, mesmo desconhecidos, pois todos estão vulneráveis, uns aos outros.

            O curioso é que em menos tempo ainda, James teve a ideia de jogar água no chão para levar um choque e pegar na mão de alguém do grupo de Ben. Por que isso? Porque ele já sentiu a potência do choque, mas com o pouco de tempo, percebeu que o outro grupo não tinha resistência para aguentar a pressão. Repetindo o que se encontra no fim do parágrafo anterior, esse é resultado que se dá quando grupos convivem com outros, mesmo desconhecidos, pois todos estão vulneráveis, uns aos outros.

CURIOSIDADE 407 – James tenta convencer Kate para fugir, mas ela contesta, lembrando de Jack. Ele responde: “A gente nem sabe se ele tá vivo. Nós temos que cuidar da gente. Agora é cada um por si, sardenta!”. Vejam que utiliza a frase de Jack ao contrário, mas o que falou não perdura muito, pois no fim do episódio ela responde pelas palavras do famoso discurso de Jack: “Viver juntos; morrer sozinho”. E o bom é que James demonstra sempre seu lado egoísta, mas não que nesse caso fosse realmente egoísta, mas sim, pela questão de sobrevivência e pelo fato de realmente não saber se o médico estava vivo (a que ponto chegou o pavor pelos habitantes da ilha. Achar que tinha matado o médico). E se fosse você? No lugar desses dois, esperaria, mesmo sem saber se o amigo esteja vivo, ou resolveria fugir?

NÚMEROS 87 – Desta vez resolvi colocar a aparição dos números em um comentário só, pois todos se referem à mesma pessoa: James. Ele fala que acha que pesa uns 80 quilos, invertido temos 08. Ele mente ao dizer sua idade: 32, que invertido dá 23. Sua idade é 35. O número de sua camisa na prisão é 840, que invertido temos 04 e 8. Já o número de Munson é 248, que invertido dá 8 e 42. Tudo aqui foi invertido. Os 10 milhões de Munson estavam escondidos numa loja de conveniência em 441, unidade 23C (Só não percebi esse 441, que peguei no site da série). O número no coelho é 8. Após cumprir a missão do carcereiro, sua pena de 6 anos é cancelada. 6, a quantidade dos números.

LEGENDA VS. DUBLAGEM 110 – Depois que é esmurrado por Danny, James diz a Kate: “Ele bate que nem mulher. É sério!”. Mas na legenda está: Ele bate que nem mulher. Sem querer ofender”. Essa não entendi a mudança. Se ele falou isso para uma mulher seria óbvio que ele diria uma coisa dessas, pois estava afirmando isso para uma mulher e daria a desculpa de não ofender. Se a questão era porque balbuciou poucas sílabas e a frase da legenda estava grande, era só mudar para “Sem ofensas”.

PSICOLOGIA 156 – Vejam o que o medo não faz com uma pessoa. Tudo ali era tão estranho que até James já não raciocinava direito. Alguém tão sarcástico quanto ele pela primeira vez grita desesperado ao ver Jack. Em nenhum momento o chamou por apelido, mas sim, pelo nome e até mesma pela função, que deixa a coisa mais séria ainda. A experiência ali já estava moldando o caráter dele. O mesmo vale para qualquer um de nós. Não adianta discursar que é isso ou aquilo, basta um momento de tensão ou coisa parecida para a pessoa fazer algo diferente. E isso é tão comprovado que a própria Kate diz: “Eu não sei o que eles fizeram com você, mas eu sei que está com medo bastante para mentir e isso me mete mais medo do que tudo o que eles fizeram com a gente antes”.

PSICOLOGIA 157 – Quando Colleen morre, Jack diz: “Hora da morte” e olha para trás. Ele se esqueceu que estava em uma ilha e não em um hospital. Vejam como quando estamos habituados com algo tendemos sempre a fazer o mesmo gesto. Isso vale o mesmo para empresas cujos funcionários executam o mesmo movimento repetidas vezes. Com o tempo, ele acabará repetindo tais gestos fora do trabalho.

PSICOLOGIA 158 – SENTIMENTOS ENGANADOS POR GESTOS. Quando uma pessoa está apaixonada por outra que ainda não sabe desse sentimento, é tendência ela confundir gestos e palavras como um possível “ela gosta de mim!”. Se a pessoa sorri pra você, você já acha que foi algum sinal de reciprocidade. Se ela te chama para algo, você já acha que possa ser um convite para algo mais. Qualquer coisa que faça, você pode interpretar errado e achando ser favorável a você. Muitas das vezes, você acaba colocando o “carro na frente dos bois” e acaba se declarando para ela, agindo muito afoito. A probabilidade de o resultado ser negativo é enorme porque você agiu por ímpeto (eu mesmo já fiz isso, chegando até a me declarar à menina mais linda da classe). Óbvio que aqui estou me referindo a relacionamento sério, não o “ficar” fácil de hoje. É mais difícil levar um fora que uma tapa. Vejam o que aconteceu a James depois que foi esmurrado por Danny e este perguntava se Kate o amava. Pouco depois, Kate conseguiu achar uma forma de fugir, mas James se deixou levar pela confissão forçada da sardenta:

JAMES: Tem que me deixar aqui!

KATE: O que eles fizeram com você?

JAMES: Vai logo!! É cada um por si.

KATE: Por que você não lutou com o cara?

JAMES: Se você me ama mesmo vai!

KATE: Só disse aquilo para ele parar de bater em você – Ela volta para sua cela –. Viver junto ou morrer sozinho.

            Tudo bem que nesse caso ela literalmente falou que o amava, mas ele poderia ter imaginado que ela só falou aquilo para que Danny parasse de espancá-lo. Entretanto, vamos sair na defesa dele, pois ela realmente falou e ele estava apaixonado por ela, só era bruto o suficiente para jamais admitir (a não ser quando esteve doente e delirou, no episódio da 2ª Temporada: O Que Kate Fez).

Nenhum comentário:

Postar um comentário