NEM SEMPRE O CINEMA É O ÓBVIO – Parte 1.
Quando separaram o grupo e Ben, Miles e Richard, acrescentando Frank pouco depois, foram para um lado, e o pessoal da Oceanic para outro lado, algo passou pela mente dos quatro atores que eu nem prestei atenção, mas que achei tão interessante e importante para destacar aqui. Os quatro já sacaram logo que iriam morrer, já que eles não eram os atores principais. Por que achei isso importante? Simples… de fato em filmes e séries desse porte, a gente já sabe que o mocinho vai se dar bem e que o principal não vai morrer… ou pelo menos um dos principais. Mas o que deu credibilidade a essa série foram as imprevisibilidades e surpresas desde o início até o fim. Foi tão comprovado que esses quatro atores achavam que o lado deles era o lado perdedor, mas no final das contas e incrivelmente foram exatamente eles quem se deram bem na história. E além deles, até Claire se juntou ao grupo, quando se pensava que o final dela não era bom e que seu personagem passou de principal para coadjuvante. Portanto, tivemos um inesperado final feliz para um grupo menos provável ainda: Frank, Miles, Richard, Claire e dois prováveis como Kate e James. Se fosse colocar em uma bolsa de apostas para dizer quem seriam os seis resgatados, tenho certeza que ninguém acertaria. E aliás, alguém já parou para pensar que Bernard foi o único que sobreviveu até o fim dentre os sobreviventes da parte de trás do voo Oceanic 815?
NEM SEMPRE O CINEMA É O ÓBVIO – Parte 2.
O mesmo vale para as imprevisíveis mortes e o grande vilão da história: o Homem de Preto. Carlton Cuse e Damon Lindelof relataram que foi preciso sim que o Homem de Preto conseguisse matar a metade dos candidatos, caso contrário, se tornaria um programa classe C, ou seja, ele seria uma porcaria de vilão.
Além do mais, ficaria uma história monótona e muito fantasiosa se somente os protagonistas se desse bem e os antagonistas se desse mal. Entendam, sabemos que tudo isso é ficção, mas me refiro à fantasia de tudo dar certo. Nem tudo na vida são flores e irá dar certo, e foi esse ponto positivo acertado por Cuse e Lindelof. Fazer um final feliz seria novelinha mexicana demais. Eu escrevo livros e de tanto ler, assistindo inclusive Lost, aprendi que é preciso fazer uma história convincente, mesmo que não agrade, mas o que importa é escrever algo que tenha pelo menos um nexo mais convincente para a realidade. Subestimação.
Só mais uma correção. Como já vi em outros comentários em Extras de episódios de já trouxe aqui, Lost foi uma série que incrivelmente só veio aparecer antagonista na 2ª temporada, mesmo assim a 1ª não caiu no monótono. E quando foram surgindo mais antagonistas, podemos perceber que nenhum pode ser considerando exatamente vilão. Cada um teve motivos para fazer o que fez. Benjamin Linus teve uma excelente redenção. Foi vítima dos jogos de Jacob. E Jacob era vilão? Não! Era seu irmão. E este era vilão? Também não. Eles foram vítimas de uma louca que matou a mãe verdadeira deles para buscar seu substituto. E essa louca era vilã? Bom, ela queria proteger a Ilha, mas se olharmos bem, talvez tenha sido ela uma real vilã. Ela matou enganou e manipulou. Não importa se para proteger a Ilha, mas perverteu duas crianças e os manipulou, moldou para o que ela queria. Nem Charles Widmore pode ser considerado vilão. Ele também foi usado e enganado. Nem os mercenários contratados por ele seriam exatamente vilões, pois foram contratados e essa era a profissão deles. Eles poderiam ser vilões, mas eram meros joguetes. E é isso, uma trama bem escrita sem reais antagonistas e quase todos vítimas. Uma história muito bem elaborada.
OUSADIA E SUBESTIMAÇÃO
E mais uma vez Lindelof e Cuse fazem um comentário interessante. Quando viram a cena do episódio Piloto antes de entrar no ar pela primeira vez, quando James atira em um urso e diz: “Acabei de atirar em um urso”, Damon disse: “Ai meu Deus. Ninguém vai assistir a essa série. Isso é ruim demais! É tão ruim! É brega!”. Vejam que até eles temiam a trama da série pelo fato de se tratar de uma ilha com coisas estranhas, inclusive um urso polar e que ainda por cima leva um tiro de alguém. Deu para perceber que eles quase desistiam por medo, mas decidiram ser ousados e prosseguiram no lançamento da série. Mas o que assustava os dois era porque as cenas eram ensaiadas na cidade. Quando passaram a gravar na selva passaram a ver os ensaios com outros olhos, daí, já estavam completamente comprometidos com a realidade da série. Além do mais, quando presenciaram o elenco atuando mesmo nos ensaios, pensaram que, se os atores eram tão bons assim, e estiverem tão comprometidos com a realidade da série, começou a imaginar que talvez fosse tão louco, mas que poderia dar certo.
Resumindo este primeiro parágrafo, vejam que subestimaram um pouco algo que sequer ainda tinha sido levado ao público, mesmo assim, ousaram seguir adiante e fizeram a série… até que chegou a 2ª temporada.
Eles estavam decidindo o que colocar dentro da escotilha, até que depois de muita decisão, puseram uma espécie de apartamento com um homem lá dentro digitando botões para evitar que o mundo fosse destruído. Daí, eles achavam que essa ideia não agradaria. E eles estavam certos. Quando assisti o início da segunda temporada pela primeira vez achei aquilo decepcionante e quase considerando uma porcaria. Fiquei frustrado. Mas então, Damon e Carlton consideraram que o público já estaria tão envolvido com os personagens que àquela altura do campeonato o público já estaria disposto a aceitar aquilo, apesar de tão tosco. E eles estavam certos. Foi bem o meu caso, pois mesmo decepcionado, frustrado, eu já estava envolvido pelos personagens e de certa forma à trama, mesmo sendo bem estranha.
E à medida que a história se desenrolava, ele não só nos entrelaçava em sua teia, como também conseguia fazer algo inacreditável: tornar uma história tão improvável como algo convincente ao público e aceitável. Isso mostra o como quando se escreve bem um roteiro, até o que for absurdo pode empolgar o leitor ou telespectador. Pois é, depois disso e até chegar ao fim, Cuse e Lindelof comentam que depois de mais de 120 episódios e terminando a série, as pessoas ainda gostavam dela mesmo após o fim. Esse é o segredo de se escrever bem também… fazer com que após o fim a pessoa queira assistir novamente.
Mas o bom em Lost não foi somente a nós, meros telespectadores, pois até o elenco se admirou com os resultados, especialmente o resultado final, pois assim que acabou de gravar a última cena, Matthew Fox exclamou: “Meu Deus! Não acredito que realizamos isso!”. Tal espanto demonstra a surpresa do elenco em ver como não somente conseguiram fazer algo tão grandioso como também concluir algo tão épico e com todas as chances de se tornar algo que teria de tudo pra dar errado e sequer ter um fim, e se tivesse o fim, que fosse um fim que agradasse ou que desse um desfecho completo (completo no sentido de não faltar nada que realmente fosse importante).
E para encerrar esse assunto, os dois revelam que o segredo de segurar bem um leitor ou telespectador é não responder todas as dúvidas de uma vez ou então complicar uma parte de história para ligar os pontos mais adiante, ou seja, eles comentam que seria como se você estivesse lendo um livro e pulasse dez capítulos. Você pode não entender o que está lendo porque não ligou os pontos. Entenderá quando chegar mais além. Então, Lindelof e Cuse explicaram que se tivessem dito ao Terry O’Quinn (John Locke) que seu personagem ia morrer e agora Terry seria o monstro de fumaça, ele poderia ter reagido mal à ideia e comprometer um pouco na atuação, sendo assim, mantiveram o segredo para que Terry pensasse mesmo que estava interpretando John Locke e não o Home de Preto. Em outras palavras, até para o elenco a história era surpresa. E gostei de ver esse detalhe da inocência do ator para seu personagem. Não saber é bom para não comprometer a inocência do personagem. Evitou de atuar um pouco como “vilão”, ou seja, saiu tudo verdadeiro.
Resumindo, o segredo (de novo) é esse: escrever bem (reler bastante o que escreveu) e prender a atenção das pessoas.
ÚLTIMAS CURIOSIDADES
CURIOSIDADE 1506 – Em nenhum momento dos extras nos outros DVDs nem no site da série foi revelado algo que eu suspeitava, mas nesse Extra final, foi revelado que de fato a Estação Poste representava o poste de Nárnia, e da mesma forma que nas Crônicas de Nárnia, o poste, assim como a Estação Poste, era a porta de entrada para outro mundo.
CURIOSIDADE 1507:
CENAS EXCLUÍDAS
1) No início da 3ª temporada, logo após Tom prender Kate e sair, ela tenta se livrar das algemas de qualquer jeito. Ainda bem que cortaram tal cena, pois achei insignificante. Como se não imaginássemos que ela fosse tentar isso.
2) James vai atrás de comida Dharma na dispensa da praia. Mais outra cena insignificante, sem fala nenhuma e somente com ele.
3) Desmond vai visitar Tereza para saber sobre o paradeiro da mãe de Daniel que ele ainda não conhece, no episódio A Constante da 4ª temporada. A mulher que o atende vai encaminhando Desmond até o quarto de Teresa. A cena excluída foi nesse momento que ela o leva até o quarto, pois no episódio mostra ele chegando na casa e depois no quarto.
4) Na 5ª temporada cortaram o momento em que James, Juliet, Jin e Miles estão cavando a cova para enterrar Paul, marido de Amy.
5) Antes de Roger discutir com Jack na sala de aula, houve uma cena filmada em que Kate aparece do lado de fora e conversa com Jack pela janela. Ele estava limpando a sala de aula antes de ela aparecer. Uma parte da conversa que chamou a atenção foi quando Jack disse que Juliet tinha dito que “Sawyer” tinha ido com ela para salvar o jovem Ben. Ela então responde que Jack perdeu a chance que tinha (que era ter ido com ela e dar apoio). Ainda bem que cortaram essa cena, pois tornaria Jack muito normal, quando sabemos que ele era muito profissional. Mostraria como se ele estava com ciúme, o que também não precisava explicar isso, pois o que deixou a série brilhante foi exatamente por não precisar explicar coisas demais, mas fazer com que nós mesmos deduzíssemos o que não precisaria explicar por ser tão óbvio. Brilhante enredo. Nos deixa perceber as coisas em vez de nos tratarmos como um “não percebi isso”. Explicar demais cairia para a categoria de série classe B (ou quem sabe até C). E convenhamos também, explicar demais faria da série uma monotonia, em vez de partir logo para o “vamos ver”.
6) Enquanto estão andando pela selva, Sun pergunta como o falso John Locke vai trazer o pessoal que está no ano de 1977 para o presente. Ainda bem que também cortaram isso, pois ela já tinha perguntado isso antes. Logo a seguir, o falso John mata um porco.
7) Mesmo ferido e escorado na Kombi, Sayid está preparando a bomba que irá detonar no poço. Jin pergunta ao árabe se vale a pena quererem destruir o poço para ver se conseguem mudar o futuro. Ele responde que perdeu tudo, portanto, vale a pena.
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